quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Lembranças em Dusseldorf

Entre aquele vasto nevoeiro que dominou a solitária noite de outono em Dusseldorf a lua incadescia timidamente, moldurando sutilmente a natureza que ali estava, dando complexas tonalidades aos diferentes seres que habitavam e toda a vegetação presente. A noite não era a mesma, nem os dias. Os tempos estavam mais frios, mais escassos e mais solitários - resmungava o homem diante da imagem de Deus que comprara em um camelô e levava consigo para todos os lugares. Era seu fiel companheiro das noites solitárias. Uma das noites ele perdeu, perdeu tal imagem, perdeu a fé, perdeu a vida. Agoniado, correu, fugiu, entrou na floresta e se escondeu. Minutos depois ouvia-se um coração humano palpitando desesperadamente, e o som do vento e dos arbustos já não eram mais suficiente para cobrir tanta agonia contida em um ser e diante dessa cena, a natureza se acordou. Os animais ficaram espantados ao se deparar com a figura de um homem chorando sobre a rocha mais alta da floresta, rezando debaixo daquele luar que queimavam os olhos de esperanças de qualquer ser - rezava por que acreditava em Deus, ou talvez por que não tinha mais nada a fazer diante das situações vivenciadas por ele. Mas, diante de todo clima sóbrio e da atmosfera negativa que ali estava presente, era possível ver que existia esperança em seus olhos, e foi nesse momento, quando ele mostrou toda sua fragilidade e simplicidade, que a toda a complexibilidade da natureza e toda sua agonia deixou de existir e os animais decidiram se esconder sobre os nevoeiros para deixar o coração do homem brilhar sobriamente, por pureza, por agonia, por uma bela agonia que chamava de amor e que não existira mais. Partiu-lhe para o outro mundo por sua culpa, mas sem querer - era o que diziam sobre o assunto. Uma dor que ele não conseguirá superar nunca, mas que foi presenciada pela natureza que percebeu a grandeza de um homem, e que lhe ajudou, confortando-lhe e mostrando a pureza da sua alma diante de tais circunstâncias. 

Choveu! Choveu naquela solitária noite de outono.
Eram os Deuses chorando por terem visto aquela cena.

Dusseldorf, 10 de Julho de 1979

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